sexta-feira, 25 de maio de 2012

Bem feito!

Quando sonhava em ser jornalista automobilístico a dúvida que me acometia era: será que terei liberdade para escrever a verdade sobre os carros no Brasil? Naquela época (meados da década de 90) a internet estava apenas engatinhando e não havia outros meios de comunicação senão revistas, jornais, rádio e TV. Mas hoje existem os blogs e qualquer um pode expressar suas opiniões. E hoje preciso expressar a minha. Na verdade não é apenas minha opinião, mas sim uma constatação que muitos canais de mídia não têm coragem de abordar a fundo: Os carros nacionais não valem nem a metade do que são cobrados por eles.
O governo acaba de anunciar, mais uma vez, a redução de IPI para carros novos. Aí vejo nos anúncios das montadoras na mídia se vangloriando de conceder descontos de até 10%. O povo, desinformado que é, vai correndo às concessionárias comprar carros, se endividando irresponsavelmente apenas para mostrar sua nova carroça 1.0 para o vizinho ou para os companheiros de trabalho.
Acordem gente! Não foi o governo que teve a ideia de reduzir o imposto para facilitar a compra do bem pela população. Na verdade houve uma pressão das montadoras sobre o governo para que isso acontecesse, uma vez que as vendas de carros novos, principalmente os populares, despencaram. Já existem carros parados nos pátios para até 43 dias de venda.  Esta atitude do governo é leviana e recai sobre ele mesmo, pois a população continuará a achar que o alto preço cobrado pelos carros aqui é só em decorrência do imposto. De quem é a culpa então? Das próprias montadoras! A ganância e a alienação da população brasileira faz com que as montadoras forneçam produtos de baixíssima qualidade com preços maior que carros melhores nos países desenvolvidos. Como podemos pagar mais de US$ 12.000,00 em carroças que sequer possuem ar condicionado e direção hidráulica? Como podem cobrar em torno de US$ 3.000,00 por opcionais como ABS e Air Bag? Estes itens, que serão obrigatórios aqui a partir de 2014, já são muito populares nos carros “básicos” dos europeus, americanos, chineses, mexicanos e até argentinos.
A verdade é que as montadoras exploram e desrespeitam descaradamente o consumidor brasileiro. Nenhuma delas tem coragem de abrir suas planilhas de custo. Certa vez, em visita ao Brasil, o presidente mundial da Honda foi questionado em uma coletiva de imprensa, por que o Civic (um carro popular em todos os mercados menos no Brasil) custa tanto quanto um carro de luxo. Após pensar muito ele respondeu: “Por que os brasileiros pagam”. Depois disso desisti de ter um Civic, que era meu sonho. Nenhum carro vendido aqui vale o quanto custa. Ford Focus, VW Golf, Chevrolet Cruze, Honda Civic, todos os Honda fabricados aqui, Fiat Bravo, Toyota Corolla, Hyundai i30 e Elantra são e sempre foram carros populares de baixo custo nos demais países onde são vendidos. /aqui são considerados carros de luxo. No caso da Hyundai, a Caoa é que comete o crime de vender aqui um carro de mais de R$ 70.000,00 (Elantra) sem se quer ter freios a disco traseiros. Um enorme absurdo que os consumidores engolem, só para aparecer com um modelo recém-lançado.
Já os populares, carroças como Gol GIV, Uno antigo, Celta, Clio, são carros péssimos, inseguros, verdadeiras bombas relógio. Todos foram sumariamente reprovados nos crash test do LatinNcap, o órgão responsável, equivalente ao EuroNcap europeu, que realiza os testes de segurança nos carros fabricados na América Latina. Fora os carros que estão em dia com os modelos fabricados lá fora que foram empobrecidos estruturalmente para serem fabricados aqui, como o Focus e o Nissan March.  Deveriam ser proibidos de vender. Os frotistas, que são os maiores compradores dessas carroças, deveriam por a mão na consciência e reconhecer que colocam a vida de seus funcionários em risco comprando carros tão ruins assim. Acho um absurdo ainda existir carros que não saiam de fabrica sem ar condicionado e direção hidráulica. Nas grandes metrópoles deste país quente, ficar parado no trânsito sem ar condicionado tira a motivação de qualquer um. Pensem nisso, diretores de empresas que possuem frotas de carros populares pelados.
Vamos deixar de ser idiotas e dar um basta nesta farra do boi que as montadoras fazem aqui. Vamos parar de comprar carros, vamos manter nossos carros usados por mais tempo e fazer com que as montadoras sintam o baque. Se grande parte dos consumidores adiarem a compra do carro novo por pelo menos um mês já terá um impacto considerável. Quem sabe assim as montadoras tomem vergonha na cara! Pois o que falta é isso!
 Só para ilustrar, em uma viagem á Europa eu decidi alugar um carro. Pedi à locadora o veículo mais barato e básico que ela tinha. Eles me ofereceram o carro mais simples que tinham: Um VW Golf TDI, com motor diesel turbo de 150cv, câmbio automático, com ar condicionado, direção elétrica.... Pois é....