quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Aí sim, Vettel!


Sempre achei que para que Sebastian Vettel entrasse para o seleto grupo de gênios faltava-lhe ainda algumas corridas heróicas no currículo, como aquela de Senna no Japão em 1988, quando conquistou seu primeiro título, algumas apresentações de gala de Schumacher ainda nos tempos de Benetton, a temporada que vem fazendo Alonso este ano, andando mais que o carro... Não falta mais. A atuação de Vettel em Abu Dhabi este ano foi digna de heroísmo.
Claro que nunca duvidei de seu talento. Desde sua primeira aparição, nos treinos livres para o GP dos Estados Unidos, em Indianápolis 2006, ficou nítido que ali havia um garoto de brilhante futuro. Lembrava Senna, com sua audácia em andar mais que todos os mais estabelecidos na chuva, como em Nurburgring em 2008, quando não chegou ao pódio devido a uma barbeiragem de Hamilton atrás do Safety Car (quase bateu e freou muito forte, obrigando Vettel, que vinha atrás de Toro Rosso, a sair para a grama e bater na mureta de proteção). Depois em Monza, com pole e vitória! De Toro Rosso, uma equipe que um dia foi Minardi! Na chuva! Ali, muitos passaram a com pará-lo a Ayrton Senna.
Claro que hoje seu carro é o melhor da F1 atual. Ultrapassar vários carros mais fracos, não é lá muito difícil com uma máquina afinada de Adrian Newey nas mãos. Mas Vettel largou dos boxes, punido por não deixar combustível suficiente para análise após os treinos, onde tinha o terceiro melhor tempo. Abu Dhabi é uma pista chata de passar.
Na primeira volta estava em 20º. Na quarta já estava em 14º. Então o Rosberg passou por cima da HRT de Karthikeyan (puta bagaçada) e o Safety Car juntou todo mundo.


Sorte de Vettel. Alonso já começava a se preocupar. Mas Vettel estava com a asa danificada por uma disputa feroz com Bruno Senna e Timo Glock. Simplesmente os três dividiram a mesma curva. Vettel passou os dois, mas esbarrou em Senna e quebrou um pedaço de sua asa. Mas o carro ia bem até que, nas voltas atrás do Safety Car, Vettel estava aquecendo pneus atrás de Ricciardo, da Toro Rosso, quando foi fechado por pelo australiano. Teve que sair da pista e atropelou a placa que sinaliza a zona de acionamento do DRS. Estas placa é de isopor, mas mesmo assim danificou ainda mais sua asa dianteira. Foi obrigado a antecipar sua parada e caiu para último de novo. Com pneus novos macios, quando todos estavam com médios desgastados, ele deu um show. Passava dois de uma vez na mesma freada! Aí sim, Vettel.
Lá na frente Hamilton liderava tranquilo, com Raikkonen em segundo (fez ótima largada, saindo de quarto), Maldonado em terceiro (fez ótima classificação outra vez o venezuelano), Alonso em quarto, Webber em quinto, Button em sexto e Massa somente em sétimo.
Alonso largou muito bem e fez uma das mais belas ultrapassagens da temporada sobre Webber, na freada da segunda reta, por fora, fritando pneus e tudo. Na raça!
Depois despachou Maldonado e se estabeleceu em terceiro, próximo de Raikkonen.
Hamilton, mais uma vez, morreu na praia. Após dar um show nos treinos, enfiar mais de meio segundo na rapa ao conquistar a pole, liderar a corrida (cometeu um só erro na freada da reta principal e saiu da pista, quase perdendo a posição para Raikkonen), teve um problema na bomba de gasolina e abandonou de novo. Muito azar para Hamilton este ano. Poderia estar lutando pelo título.
Raikkonen assumiu a ponta e Vettel já aparecia em segundo após a primeira rodada de pits e a corrida se movimentou. Alonso passou Maldonado, que dormiu, assumindo a segunda posição.
Webber, após tomar o passão por fora de Alonso, ficou puto e quis fazer igual. Primeiro com Maldonado. Tocou rodas e rodou. Maldonado seguiu na boa. Depois com Felipe Massa. Do mesmo jeito, na freada da segunda reta pôs de lado, dividiu com Felipe por dentro, tocou rodas, espalhou e foi por fora da pista. Ao voltar, jogou pra cima de Massa, que freou e rodou. Reclamou muito pelo rádio o brasileiro, mas a FIA interpretou como “no further action”.


Depois Button quis ensinar Webber e mostrou como se passa Maldonado na mesa curva, só que por dentro.
Vettel, com pneus desgastados, começava a perder terreno para Raikkonen. Parou e voltou em quarto. Isto já lhe garantia a liderança do campeonato.
Mas as emoções ainda não haviam terminado. Numa bela disputa, Paul Di Resta (Force India) tentava ultrapassar Grosjean da Lotus. Sérgio Perez (Sauber) vinha no vácuo dos dois. Na já famosa freada da segunda reta (melhor ponto de ultrapassagem da pista), Di Resta botou por fora e forçou pra cima de Grosjean na freada. Perez, no maior estilo game, freou lá dentro e tentou passar os dois. Passou Grosjean na primeira perna da chicane e dividiu a segunda perna com Di Resta. Perez saiu da pista e ao retornar (assim como Webber fez com Massa) tocou em Grosjean e os dói bateram, levando junto Mark Webber que vinha atrás. Safety Car de novo. Pérez, Grosjean e Webber fora. Sorte de Massa e Bruno Senna que herdaram estas posições e brigavam pela 12ª posição.
Juntou todo mundo novamente e Vettel colou em Button, que estava em terceiro. Ficou 10 voltas tentando uma maneira de ultrapassar sem se arriscar, afinal, largar dos boxes e terminar a prova em quarto, ainda à frente do campeonato, já era mais que suficiente.
Mas Vettel é piloto e piloto não perde a oportunidade. Como a equipe Ferrari avisou divertidamente Alonso pelo rádio: Button dormiu e Vettel o passou. Passou por fora, no maior estilo, na mesma curva onde Webber tentou e não conseguiu duas vezes. Aí sim, Vettel!
O rádio, aliás, foi a grande atração deste GP. As patadas de Raikkonen em seu engenheiro na corrida foram hilárias. “Deixe-me em paz, eu sei que estou fazendo” disse ao ser informado que seu engenheiro o manteria informado o tempo todo sobre a sua diferença para Alonso. Noutra, ao ser aconselhado por seu engenheiro para cuidar do desgaste dos pneus, respondeu, cortando: “Sim, sim, sim, eu sei, estou fazendo isso desde o começo da corrida”. Agora sei por que Kimi não deu certo no WRC. Se ele se incomoda com pequenas frases no rádio, imagina ficar o tempo inteiro ouvindo o navegador ao lado? Deve ter ficado maluco.
Alonso fez ótima corrida e chegou em segundo e Vettel, brilhantemente em terceiro.
A antessala do pódio era a síntese do campeonato. Raikkonen e Vettel conversavam animadamente, enquanto Alonso descansava sozinho, afastado deles, nitidamente desolado.
Parabéns para Raikkonen pela vitória e por fugir do estereótipo de robozinho do mundo da F1. Após a festa da champanhe, na entrevista que fazem agora, ainda no pódio, David Coulthard (ex-piloto e agora comentarista de TV) perguntou se ele se sentia mais feliz com esta vitória em relação às demais que já teve.
Ele respondeu: “No much, really” (Não muito, para ser sincero). De mais!
Parabéns à Lotus. Foi sua 80ª vitória. A última foi no GP de Detroit, EUA, 1987, com Ayrton Senna.


Parabéns aos pilotos que fizeram deste GP de Abu Dhabi num dos melhores da temporada, com muitos pegas e muitas ultrapassagens.  Mostraram que mesmo em uma pista onde sempre teve corrida chata, basta ter peito e raça que o show acontece.
Após três pistas perfeitas para os carros da Red Bull, com quinas, retas, curvas em 90º, plano, enormes áreas de escapes como foi na Coréia, Índia e Abu Dhabi, a F1 chega em um pista nova nos Estados Unidos. A pista de Austin, no Texas, promete ser bastante seletiva, com aclives e declives, “S” em sequência, curvas cegas. Lá e em Interlagos a Ferrari pode ter alguma reação, apesar de a Red Bull ter dominado Interlagos nos dois últimos anos.
Espero que sejam corridas tão boas como foram esta de Abu Dhabi, a de Valencia, a do Canadá, etc.