terça-feira, 20 de setembro de 2011

GP da Itália 2011 - Roda à roda

O GP da Itália é uns dos mais antigos de toda a temporada. Monza é de uma época que precede a própria F1. Desde 1922, sedia o Grande Premio da Itália, quando a F1 era conhecida ainda como Grand Prix Championship. Até a década de 60 a pista de Monza era uma mistura de misto e oval, onde os caras atingiam velocidades absurdas. Cenas fantásticas foram rodadas lá para o filme Grand Prix (até hoje uns dos melhores filmes sobre automobilismo já feito). Recomendo assistirem.
O GP de Monza deste ano foi cercado de muita expectativa. Com suas longas retas e o uso da asa móvel, era de se esperar muitas ultrapassagens.  Alguns jornalistas especializados disseram que em Monza o uso da asa móvel não faria tanta diferença, pois os carros usam quase nada de asa.  Já preconizavam uma corridinha chata com poucas e óbvias ultrapassagens. Mas acho que se esqueceram de consultar os pilotos. Nos treinos alguns carros beiraram os 350 Km/h no final da reta dos boxes, mostrando que dava para aproveitar o vácuo. Vettel fez a pole (a de número 25, à frente de Piquet e Stewart) de forma sádica, enfiando meio segundo nele mesmo, que já tinha o melhor tempo. Hamilton conseguiu o segundo no braço mais uma vez. Button em terceiro e Alonso em quarto. Webber, fraco como sempre, em quinto e Massa em sexto. Petrov desta vez foi mais rápido que Senna e ficou em sétimo. Schumacher mais uma vez na frente de Rosberg, e Bruno Senna fechando os 10 primeiros.  Bruno não marcou tempo no Q3. Preferiu ter  o direito de escolher largar com pneu novo e duro. Rubinho ficou em décimo terceiro “struggle like a pig”como ele costuma dizer.
Desde a largada, a corrida foi muito agitada e com ótimos pegas. Alonso, motivado, enfim conseguiu largar muito bem e tomou a liderança, oferecendo um brilhareco para os Tifosi da Ferrari que inundam o autódromo todo ano. Hamilton largou mal e perdeu a posição para Alonso assim como Vettel. Massa largou bem e se aproveitou da má largada de Button e Webber para assumir a quarta posição. Schumacher também jantou os dois e quase passou o Hamilton, mas conseguiu passar o Massa no meio da chicane. Atrás o Liuzzi fez o strike em Petrov e Rosberg. Rubinho entrou sozinho no meio da batida (!?) e ficou parado. Bruno Senna largou mal, de certo com medo de repetir a cagada da corrida de Spa. Pelo menos escapou da confusão, mas caiu lá pra trás. SC na pista.
Na re-largada, Hamilton vacilou e Schumacher passou. Vettel começou a pressionar Alonso ferozmente e Webber tentava passar Massa por fora na freada da chicane. Espalhou, foi pra cima da zebra e na volta acertou a traseira da Ferrari de Massa, fazendo-rodar. Webber quebrou o bico e passou reto bisonhamente na curva Parabólica. Um pouco mais à frente, Vettel meteu por fora do lado de Alonso no curvão feito com pé embaixo, logo depois da primeira chicane. Alonso o empurrou para fora, mas o alemão não se intimidou, botou duas rodas na grama, quase batendo roda com o Alonso e freou lá dentro da segunda chicane, assumindo a ponta.
Mais atrás Hamilton travava um duelo com Schumacher daqueles que sempre será lembrado e relembrado no youtube como uns dos maiores pegas da história. Ok, menos talvez, mas foi animal. Hamilton tentava passar Schumacher de todo lado desesperado. Chegou a ultrapassá-lo na freada da Chicane, mas o Heptacampeão (que usava uma asa que era quase a metade da asa da Mclaren) deu o troco no curvão de pé embaixo, onde Vettel passou Alonso. Button vinha chegando e não só passou Hamilton, se aproveitando de um erro do companheiro, como passou
Schumacher por fora na freada da segunda chicane.
As posições se mantiveram mais ou menos assim até o final.
Mas teve outros pegas como do Alonso com Button, Bruno com Buemi (que fez o Alesi quase arrancar os cabelos e o Galvão soltar outro “ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai”), com uma bela ultrapassagem do brasileiro no final (sim, bela por que foi na raça, freando lá dentro na primeira chicane) e do Hamilton pressionando o Alonso até a última volta. Mas o espanhol é foda. Conseguiu segurar o terceiro lugar no pódio. Button, em outra excelente corrida de recuperação (está se tornando sua especialidade) chegou em segundo e o Bicampeão Vettel comemorou a sua oitava vitória na temporada. Desconfio que já pintaram o número um no seu carro do ano que vem.
Schumacher, depois de lutar (e se divertir) muito chegou em quinto. Massa foi sexto. Bruno Senna marcou seus primeiros dois pontos na F1 em nono. E mostrou uma evolução que corrobora o que eu disse sobre alguns posts abaixo.
Enfim, Barrichello mais uma vez ficou fora dos pontos.
A corrida foi muito boa, contrariando a “imprensa especializada” e mostrou que Monza pode também mostrar que tem “cujones". Apesar da simplicidade do traçado exige muita perícia e sangue frio para frear o mais dentro possível e atropelar as zebras.
Agora é preparar a comemoração do Vettel em Cingapura no próximo fim de semana. O local da festa, dizem, já está reservado.

 

GP da Bélgica – Magic Spa!!!


O GP da Bélgica neste ano evidenciou o que há de melhor no automobilismo: desafios em alta velocidade. Os circuitos de Hermann Tilke são bons para os carros atuais, que fazem curvas, digamos, quadradas (?). Pois é, quadradas! Nos circuitos novos, com muitas curvas em 90 graus, quinas e seções de semi-retas (nossa parece aula de geometria) são feitos para os carros atuais que funcionam melhor quando só tem que frear forte, jogar o carro em cima da zebra e sair acelerando o mais breve possível. Não apresentam curvas longas, que começam abertas e fecham de repente, ou o contrário. E é em pistas assim, como a de Spa e Interlagos (esperem pela melhor corrida no ano em Interlagos!) que os bons pilotos prevalecem.
Depois da impressionante classificação do Bruno Senna no sábado, classificando-se em sétimo à frente de Fernando Alonso (chupa, Alonso!), Bruno Senna cometeu um erro até que esperado na largada. Sem experiência com o carro pesado, largou um pouco mal, se empolgou, deixou pra frear muito tarde, fritou os pneus na freada e deu no meio do Alguersuari. Este tocou no Alonso e quebrou a roda dianteira esquerda de seu Toro Rosso, abandonando a corrida de imediato, depois de alcançar a melhor classificação de grid (sexto, ao lado do Bruno Senna) na F1. Bruno quebrou a asa, levou um drive-through e fudeu sua corrida toda. Mas não apaga o seu belíssimo desempenho no geral. Alonso, sortudo como sempre, nada sofreu e continuou na corrida. Continuou mas tomou pau de todo mundo. A ultrapassagem que tomou do Webber, que é fraco em disputa, foi a mais bonita do ano (é a foto que ilustra este post lá em cima). Na confusão, Rosberg pulou na ponta seguido de Vettel, Webber, Massa, Alonso e Button. As Red Bull estavam com bolhas nos pneus devido ao uso de uma cambagem excessivamente negativa. Pararam logo no início. Na volta Alonso estava na frente e foi surrado por eles. Antes Alonso passou Felipe (freguês) e trouxe consigo o Rosberg.
E o pau comendo! O esquema era subir a Eau Rouge colado no carro da frente, abrir a asa na reta Radillon e deixar pra frear lá no Deus me livre. Mas houve muitos pegas no miolo do circuito também, sem a ajuda da asa móvel. Foram várias durante a corrida inteira, em disputas apertadíssimas, roda a roda, a menos de um fio de cabelo um do outro. Pilotar assim no limite sem tocar ou bater é foda. Lindo de se ver. É impressionante como as disputas na F1 atual são parecidas com aquelas que travamos nos games. Os caras perderam o medo e estão indo pra cima, botando de lado e seja o que Deus que quiser. Até o Webber, mandou bem pra cima do Alonso.
 Alonso saía dos boxes a toda velocidade e atrás vinha o Webber abrindo a volta. Alonso tentou sair fechando o Webber, mas o australiano (que, repito, sempre foi fraco na hora do pega pra capar) não quis nem saber. É isso. Bota de lado, entra junto na curva. Alguém tem que tirar o pé. Se não bate. E o Alonso afinou. Foi linda a ultrapassagem.
No fim o bi-campeão Vettel (sim, já era) venceu mais uma (a sétima em 12 disputadas) e caminha tranqüilo para mais um caneco. Resta aos outros as disputas e os pegas que se divertem o público diverte ainda mais os pilotos.  

Bruno Senna


Em Spa, o que vimos no fim de semana, com treinos em baixo de chuva, foi uma grata surpresa. Sem recorrer àquela ladainha brega da Globo (um Senna, em uma Lotus negra... e biriri, boróró), Bruno Senna realmente mandou muito bem na classificação do GP da Bélgica. Na chuva, os bons pilotos conseguem aparecer, pois é quando o ele tem que provar ter maior controle do carro, onde o equipamento conta um pouco menos e prevalece o talento. Ser mais rápido que seu companheiro de equipe, mais experiente, o russo Vitaly Petrov, já foi bom. Mas ficar à frente do Alonso, foi mais que bom. Tenho mais de trinta de anos de fanatismo, acompanhando a F1 e me sinto seguro em dizer, sem ufanismos: Bruno Senna pode ser o próximo piloto brasileiro vencedor na F1.
Ainda é cedo para dizer, mas mesmo o mais cético há que dar o braço a torcer. Bruno Senna tem muito pouca experiência em carros de corrida. Quando seu tio morreu, ele ainda brincava de kart, sem sequer estar ainda competindo de verdade. Com o choque, a família o convenceu a esquecer a carreira de piloto. Ele então ficou mais de 10 anos parado, até voltar a correr na F-BMW, em apenas algumas corridas. Alguns resultados aceitáveis, para quem estava parado há tanto tempo, e logo se mudou para a respeitada F3 Inglesa em 2005. Lá ele começou a surpreender. Apesar de alguns erros, normais para sua pouca experiência, ele venceu corridas e foi relativamente bem o campeonato inteiro. No ano seguinte, um excelente início. Venceu as três primeiras provas da temporada de F3 daquele ano. Mas a falta de experiência fez com que ele caísse de produção, cometendo alguns erros e tendo problemas para acertar o carro. Ficou em terceiro lugar na classificação. Em 2007 subiu para a GP2, último degrau antes da F1. Venceu corridas também, mas foi em 2008 que ele se estabeleceu. Disputou o título e a sua maior vitória foi em Mônaco, na preliminar da F1. Chegou ao vice-campeonato. Pronto.  Seu nome já estava cogitado em várias equipes (pequenas é verdade).
Em 2009, Bruno estava muito próximo de fechar um contrato com a Honda para substituir o Barrichello. Fizeram um teste entre o Bruno e o Lucas di Grassi. Senna foi o mais rápido e ficou a apenas dois décimos do melhor tempo do piloto oficial Jenson Button. Mas a Honda decidiu se pirulitar da F1 e a equipe se tornou Brawn GP, comandava pelo ex-chefe de Rubinho na Ferrari, Ross Brawn. Que preferiu a experiência de Barrichello em detrimento ao nome Senna que era favorito da Honda. O final todos já sabem, a Brawn fez um carro surpreendente, com o famoso difusor duplo e Button foi campeão e Barrichello perdendo a maior chance de sua vida de ser campeão.
Após um ano parado, fazendo corridas esporádicas aqui e ali, com maior destaque para uma participação nas 24 Horas de Le Mans em 2009, Senna estreou na F1 em 2010. Pela porta dos fundos. A sua equipe, Hispania, não tinha a menor condição de competir na F1. Chegava a ser mais lento que alguns carros da GP2. Portanto um ano que não conta.
Em 2011, fechou contrato com a Renault-Lotus-Genii - que estreava pintura nova inspirada na Lotus Negra JPS de antigamente, como terceiro piloto. Os titulares eram Petrov e Kubica. Mas quis o destino que Kubica se acidentasse em uma prova de Rally na Itália no começo do ano, antes do início da temporada. Alguém precisa substituí-lo. Na insegurança de promover Bruno, contrataram o fraco, mas experiente, Nick Heidfeld (eu sempre disse que ele era fraco). No início, com um pódio na segunda prova todos aclamaram a decisão da Renault como certa. Mas ao longo da temporada Heidfeld, como sempre entregou.
Por tudo isso, por sua carreira meteórica, por toda a pressão que sofre por seu sobrenome, pela sua falta de experiência, mas principalmente pela sua raça e determinação (talvez a maior herança genética de seu tio) é que eu acredito que ele vai chegar lá. Basta que o lado comercial caminhe junto com sua competência, ou seja, tem que saber se vender. Infelizmente a F1 não tem mais espaço para pilotos puros. Tem que ter um lado comercial.
Vamos esperar para ver. Não o comparo ao Hamilton e Vettel, ainda, mas acredito que ele tem esse potencial.