sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A melhor atuação de um piloto na história da F1



Saudoso dos bons tempos do Brasil nas pistas, andei assistindo algumas corridas de nossa época de ouro na F1. Até que cheguei ao GP do Japão de 1988, corrida em que Ayrton Senna conquistou seu primeiro título.
Na época achei a corrida fantástica, mas nada que não fosse esperado de Senna. Hoje, 24 anos depois, parece que caiu a ficha: o que Senna fez nesta corrida foi quase sobrenatural.
 Lembro-me que ele disse em uma entrevista com Roberto Carlos (o cantor) que ele havia visualizado Deus naquela corrida. Virou motivo de piada, mas acho que foi realmente Deus que operou aquele milagre.
Na temporada de 1988 a McLaren tinha de longe o melhor carro, os melhores pilotos, o melhor motor e dinheiro de sobra. Dominou em todas as pistas e venceu 15 de 16 corridas. Prost, companheiro de Senna, era o então líder da equipe com a qual já havia conquistado dois títulos mundiais. Senna ainda era tido como um piloto assustadoramente rápido, mas inconstante. Havia feito 13 poles até ali, mas Prost o apertava na tabela de pontos.
Senna, claro, largava na pole no GP do Japão, com Prost em segundo. Quem vencesse seria o campeão da temporada. Na largada Senna, nervoso, deixou o motor apagar. Chegou a levantar os braços sinalizando o problema, mas, como a reta de Suzuka é em descida, o carro pegou um embalinho e Senna conseguiu fazer pegar no tranco.
Quem vinha atrás teve que desviar e por pouco Berger e Piquet não encheram sua traseira. Prost pulou na frente, seguido de Berger de Ferrari e um surpreendente Ivan Capelli em terceiro com um March (este foi o primeiro carro de sucesso de Adrian Newey, o mago das pranchetas, atualmente na Red Bull). Senna caiu para 14º. Aí começou a maior atuação de um piloto de F1 da era moderna. Na primeira volta ele passou seis carros e fechou a primeira volta em oitavo. Infelizmente a TV Japonesa não mostrou as ultrapassagens e até hoje fico curioso de saber como ele conseguiu isto.  Na segunda volta, já passou em sexto. Duas voltas depois já era quarto. Aí começou a garoar. Só para melar a pista e dar um pouco de chance para Senna, que já era o rei da chuva (será que foi obra de Deus?). A diferença entre ele e Prost era de 16 segundos. Senna foi tirando, tirando e chegou em Prost. Neste momento a pista secou e Prost, que só andava bem no seco, conseguiu se manter à frente, mas aí Senna já estava ali fungando no seu cangote. 
Ok, seu carro era muito superior ao das outras equipes, mas descontar uma diferença tão grande para seu companheiro de equipe, ninguém menos que Alain Prost, foi algo mais que fantástico. Como manter um nível de concentração tão alto e uma habilidade tão grande com a pista escorregadia, depois de tamanho nervosismo com o erro na largada?
Outra característica de Senna era sua imensa capacidade de se livrar dos retardatários. Ele quase passava por cima deles. Já Prost ficava ensaiando o melhor lugar para passá-los. Foi numa destas que Prost entrou na reta atrás de um retardatário. Senna embutiu no seu vácuo, botou de lado e passou Prost, o retardatário e tudo o que mais tivesse pela frente. Sua determinação foi tão grande que mesmo o Prost o empurrando para fora da pista ele colocou duas rodas na grama e freou lá dentro. Deu uma traseirada com o carro no meio da curva, controlou lindamente e se manteve na ponta.
Quando cruzou a linha de chegada estava nove segundos a frente de Prost. Ali todo o mundo da Formula 1 se rendeu ao seu talento e o Brasil amanheceu em festa, como se a seleção de futebol tivesse sido campeã. Confesso que fui às lágrimas, afinal, depois do erro na largada, ninguém acreditaria em uma recuperação tão fantástica, mágica, quase sobrenatural. Acho que não deveriam duvidar de que ele viu Deus naquela corrida.
Senna não era imbatível e seus erros mostravam que era sim um ser humano. Mas não houve jamais piloto tão determinado, com uma força interior tão grande que o fazia realizar coisas inacreditáveis.
Por isso, que me perdoem Alonso, Schumacher, Vettel, Hamilton, Prost, Lauda, Fangio, Clark, Stewart e alguns jornalistas especializados: ainda não apareceu ninguém melhor que o Magic Senna. 

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